Enchantments - Prose and Poetry

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Tarde de Dezembro


O Sol, astro-rei, caminha para o poente,
Crianças brincam na área útil dos prédios,
O japonês apita querendo vender o doce,
Um vira-lata late na rua para quem passa,
Um mendigo come restos de comida do lixo,
Idosas reúnem-se nos bancos, faladeiras,
As varandas são enfeitadas para o Natal,
A brisa acaricia a cabeça dos transeuntes,
E a rua é um mar de sonhos e de juízos,
Nessa tarde cotidiana de dezembro.

Poeta Grisalho


Se a fronte desse poeta já se traveste de prata,
E os fios escuros concorrem de igual com os brancos,
Se eu não aparento mais ser aquele rapazote de antes,
E a minha juventude se consome com o passar dos anos,
O que eu posso dizer é que fico feliz com isso tudo,
E assumo a minha grisalhice com grande orgulho,
Pois é preciso enxergar a beleza da maturidade.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Petulância


Ela surge em todos os lugares e classes,
Surpreende, ofende, desconjunta, desagrega,
A petulância é prima da inveja e do complexo,
Senhor, fazei que eu fique longe dos petulantes.    

Se os Meus Versos Te Tocam...


É porque o teu coração é feito de rosas,
Sou um poeta que é jardineiro dos sentimentos,
Cuido das palavras como se elas fossem um roseiral,
Que cresce cotidianamente a cada verso livre, a cada rima,
Se os meus versos te tocam, então posso dizer que fico feliz,
Pois agora sei que as rosas crescem no íntimo do teu coração.

Contra o Egoísmo


A alma que está mergulhada somente em si,
Está mergulhada somente no vazio, no vácuo,
Quando as águas da solidariedade te tocarem,
É sábio que não hesites, não repudies, não temas,
Na verdade, mergulha-te nela, de corpo e alma,
Não somos donos nem sequer de nós mesmos,
Vai, tira essas vestes pesadas do egoísmo
E adentras no mar límpido da solidariedade.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Entrego-te um Pacote de Sonhos...


Para que possas compartilhar comigo,
Guarda-o em lugar seguro e sagrado,
Pois nele está toda a minha essência,
As minhas aspirações, os meus desejos,
Vem, constrói comigo o meu castelo,
Tijolo, argamassa e madeiramento,
Pois a planta está no meu coração,
Dá-me a tua mão e vem construir.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Equilíbrio...


Apropria-me, comanda-me, orienta-me,
Torna-me sempre senhor de mim mesmo,
Transforma-me em rocha numa tempestade,
Metamorfoseia-me em senhor da harmonia,
Em um barco que tem rumo e destino certos,
Equilíbrio, és irmão da prudência e da fé,
A tua mãe é a consciência e o teu pai o juízo,
Fazei de mim também um integrante da tua família.

Lembranças


Elas vem às vezes discretas, às vezes indiscretas,
Discretamente, como uma composição de Chopin,
Ou indiscretas, tal qual uma música de frevo de rua,
Elas vem, convidando-nos ou escravizando-nos,
Somos todos um poço sem fundo de memórias,
Distantes ou próximas, agradáveis ou não,
Quando a brisa da lembrança chega,
Quando o Sol da memória irradia,
Contemplamos o nosso passado,
Que não pode ser compartilhado,
Somente saboreado ou execrado.  

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Os Marinheiros e a Tempestade


Mar revolto, ondas imensas, ventos intensos,
Uma escuridão que parece tomar conta do mundo todo,
Uma cordilheira de ondas e um vale assustador abaixo,
Mandei recolher as velas dos dois mastros, a fim de salvá-las,
Amarramo-nos no balaústre do convés, senão seríamos tragados,
Ninguém estava lá embaixo, nos cômodos, banheiros e cozinha,
Ninguém queria morrer escondido, afogado pela água do mar,
Poseidon estava enfurecido, queria nos fulminar, destruir tudo,
Dei as minhas últimas ordens, “à bombordo, deixem o leme travado!,”
Uma imensa coluna de vento quase vira a nossa embarcação de lado,
Os meus marinheiros já se despediam entre si, desesperados,
Uma onda de quarenta metros quase emborcou o nosso navio,
Todo molhado, fiz o sinal da cruz, apesar de não ser religioso,
Vejo uma imensa muralha de água se aproximando, talvez 60 metros,
Segurei com força um dos mastros e confirmei os nós de marinheiro,
“Precisamos resistir,” disse a mim e a todos...

Deixa Eu te Regar, Florzinha...


Autoriza-me a cuidar de ti, te amparar, te proteger,
Deixa-me te adubar, te podar, te resguardar,
Permita-me, florzinha, que eu possa te fortalecer,
E, assim, eu possa te dar o belo ato de amar.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Versos Notívagos


Sou amante da noite, da Lua e das estrelas,
Sou apreciador da coruja que passeia na noite fria,
Da cigarra que canta louvando à penumbra noturna,
Dos animais que transitam na noite e dormem de dia,
Sou contemplador das ruas vazias, com gatos miando,
Do vento frio que vem do mar à noite, com a maresia,
Das espumas brancas da praia, iluminadas pela lua cheia,
Dos peixes que sobem à superfície pensando que é dia,
Da areia da praia com a cor acinzentada com a luz lunar,
E é por isso que afirmo: sim, eu sou um poeta notívago.  

Talvez Eu Seja Manuel Bandeira...


Continuando a sua poesia através da minha pessoa, como num eco,
Nascendo de novo em Pasárgada, a fim de cumprir a sua evolução,
Talvez eu seja Bandeira, cumprindo o seu sonho de ser arquiteto,
Amando incondicionalmente a sua terra natal, amando a sua nação,
Porventura eu seja Bandeira, continuando o passo do verso certo,
E expressando os seus sentimentos, do fundo do seu coração.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Coragem...


É virtude que faz a diferença na vida de qualquer pessoa,
Quem não a tem, não consegue dar um passo no escuro,
E o sujeito não consegue sair da sua zona de conforto,
Não consegue mudar o seu caminho, ir por novas veredas,
Teme o novo, teme a insegurança, teme o desconhecido.

Se não fosse pela coragem, ainda estaríamos na Idade Média,
A coragem estende a sua mão para todos, solícita e piedosa,
Mas nem todos desejam a sua corte, desprezando-a,
A vida sem a coragem é como um barco sem vela,
Que não tem força para seguir rumo algum.  

Borboleta...


Leve os meus sonhos contigo para os jardins da esperança,
Deposita-os na grande roseira do sucesso e da obstinação,
E peça ao jardineiro que a regue diariamente com temperança,
A fim de que ela produza as rosas da felicidade e da união.

Borboleta, leva contigo os meus anseios para o vale da harmonia,
Derrama-os por lá, nos campos do amor e nas árvores da bondade,
Para que assim produzam as flores brancas e cheirosas da alegria,
E na minha alma as veredas da paz, do amor e da integridade.

domingo, 4 de outubro de 2015

Eu Sou Aquele que Nada Contra a Correnteza...


Sou aquele que se esconde em vez de aparecer,
Sou o sujeito que se cala quando todos querem falar,
Ou aquele que fala quando ninguém sabe o que dizer,
Sou o automóvel que vai na contramão de uma avenida,
Ou o barco que entra na tempestade em vez de fugir,
Eu sou a curva na reta ou então a reta na curva,
Eu sou o silêncio meditativo na gritaria da multidão,
Ou aquele que grita no meio do mar do silêncio,
Sou, enfim, um poeta, simplesmente.

Versos Outubrinos


O Sol de verão já resplandece intenso no horizonte,
O calor dos trópicos tomou conta da paisagem urbana,
O final do ano já começa a anunciar sua presença,
O inverno foi embora, evadiu-se, a chuva inexiste,
Outubro chega trazendo esperança de dias melhores,
Dias outubrinos, novembrinos, dezembrinos...

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Afetividades e Efetividades


Quando o Sol nasce, é só em ti que eu penso,
Quando a Lua surge na noite, é em ti que reflito,
A rosa que eu contemplo, é em ti meu pensamento,
A bela borboleta que sobrevoa, é você que assisto,
E até o firmamento, é apenas em ti um sentimento.

Inimizades são Joios...


Que podem nascer na vida de qualquer pessoa,
São árvores infrutíferas, secas e acinzentadas,
Inimizades subtraem muito mais do que somam,
Não mostram nada, sim, não servem de nada,
Um peixe não é inimigo de outro peixe,
Nem tampouco um beija-flor é de outro,
Muito menos uma rosa se opõe a um lírio,
Dissolvemos as inimizades e
Adubemos as amizades.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

O Fim do Mundo Visto de um Banheiro Coletivo.


Não passava pela sua cabeça que o mundo havia acabado. Na verdade, lembrava que houvera ido a um dos banheiros públicos que estavam instalados no calçadão da Praia de Boa Viagem, em Recife. Foi acometido por uma imensa dor de barriga por causa de uma feijoada que havia comido em um restaurante daquele bairro e não conseguiu alcançar o hotel que estava hospedado, que estava localizado a alguns metros do referido estabelecimento gastronômico, então, desesperado, correu para o banheiro coletivo, que estava mais fácil e receptivo. Os seus colegas haviam lhe dito que o estariam esperando na recepção do hotel, a fim de subirem aos quartos e dormirem, pois no dia seguinte teriam mais um dia de palestras no congresso que estavam acompanhando. Todas as despesas foram bancadas pela empresa multinacional a qual eram funcionários do alto escalão.

O rapaz mal tinha acabado de sentar na privada quando ouviu um tremendo estrondo fora do banheiro, que fez tremer tudo. De fato, foi algo assustador e ensurdecedor. Ao mesmo tempo ouvira gritos de homens e mulheres, além de imensos clarões que invadiam os cobogós daquele equipamento público. Depois de alguns minutos de terror, o que sobrou foi o silêncio. Dentro de uma das cabines, o executivo da multinacional tentava se concentrar na execução das suas necessidades fisiológicas, apesar do imenso barulho que havia ouvido anteriormente e do medo que o acometia. Imaginava o que havia acontecido lá fora, cogitava que poderia ter sido uma explosão de gás em algum prédio ou então algum acidente automobilístico na avenida que existia a poucos metros dali. Acreditou que estava tudo bem, pois achava que tinha sido somente mais um acidente, algo que é muito comum nas grandes cidades. E, portanto, a polícia e os bombeiros dentro em breve chegariam ao local e resolveriam tudo.

Sentiu então um forte mal cheiro que vinha de fora, tinha algo de carne queimada misturada com plástico. Nunca houvera sentido um odor tão forte assim na sua vida. Teve receio de que houvesse um incêndio próximo daquele banheiro público e que poderia estar correndo risco de vida. Mas o pobre coitado não conseguia se levantar do vaso sanitário, pois a feijoada ainda surtia um efeito nocivo nas suas entranhas. Estava ao mesmo tempo congelado de medo por causa do que provavelmente houvera acontecido fora do recinto e de um imenso mal estar por causa da dor de barriga. Então, prudentemente, preferiu continuar a sua dura jornada a fim de se livrar das suas fezes. Concentrou-se nos seus afazeres, nas pendências que o esperavam no seu escritório na sede da empresa, lembrou-se da sua esposa e dos seus dois filhos ainda crianças, depois lembrou-se das partidas de golf que tanto gostava de praticar nos finais de semana. Então recordou-se da sua velha roda de amigos, que era formada nas tardes de domingo. Enfim, lembrou-se da sua amante, Carminha, a ninfetinha que o deixava louco nas tardes das quintas e sextas-feiras. E indagou-se se os mesmos ainda estavam vivos ou se o mundo houvera acabado de vez. Refletiu se era o único homem vivo sobre a face da Terra ou se existiam outros sobreviventes em outros lugares que, por um puro golpe de sorte ou por intermédio da Providência Divina, sobreviveram ao Apocalipse, assim como ele. Então indagou-se porque ele sobreviveu, afinal, não era santo, acreditava que tinha vários defeitos: era adúltero, ambicioso demais, vaidoso, mentiroso, arrogante, egoísta, dentre outras incontáveis imperfeições da sua alma. Portanto, julgava que não era um candidato à altura para que tivesse o seu nome na lista dos eleitos ou retos. Aliás, nem era religioso, fazia quase dez anos que não pisava numa igreja, desde o batizado do seu filho caçula.

Ouviu então um grande barulho de curto-circuito, que era proveniente de cabos de energia cortados que se chocavam com o solo, o que o acordou da sua meditação. Praguejou alguns palavrões, enquanto forçava a sua barriga para que saíssem todos os dejetos que o incomodavam. De fato, observou que o negócio estava sério no seu intestino e prometeu a si mesmo que nunca mais voltaria àquele restaurante, isso se ainda houvesse algum restaurante para ir, pensava. Receou que talvez não tivesse morrido no Fim do Mundo para que pudesse morrer de dor de barriga, assim teria uma morte mais lenta e sofrível. Dessa forma, já poderia começar a pagar pelos seus pecados ainda na Terra. E começou a entender porque ainda estava vivo, estava vivo porque era mais miserável do que a maioria das pessoas e não porque era um santo. Tentou chorar, mas a dor de barriga o impediu até disso. Constatou então que os gases estavam infestando o banheiro e que não eram gases externos, provocados por algum vazamento químico, eram fruto unicamente do seu trabalho árduo naquele pequeno ambiente de uso coletivo.

Desesperado, tentou se concentrar então em algum barulho que viesse de fora, algum grito, gemido, um toque de sirene, de alarme ou de qualquer outra coisa. Depois de silenciar por alguns minutos, não ouviu nada além do som de água jorrando de alguma tubulação que foi rompida e da fiação elétrica em curto-circuíto. Nenhuma voz de mulher, de criança, de homem, nem sequer de um cachorro vira-lata havia fora do banheiro coletivo. O mundo estava mudo. E estremeceu ao constatar isso. Sentia-se só como há muito tempo não se sentia. Pensava como seria a sua vida, como sobreviveria. Ele, que era um sujeito que sempre teve quem lhe servisse com atenção e subserviência. Um indivíduo mimado pelos pais, filho único, que foi educado, desde a tenra infância, para ficar por cima em todos os sentidos e que pouco sentiu o gosto de perder alguma coisa. Naquele momento, enxergava que o cenário houvera mudado integralmente, teria que se virar, procurar comida, água, um local seguro para morar, se proteger da chuva e do sol. Solitário, julgava que teria de invadir supermercados em ruínas, a fim de encontrar comida enlatada que ainda estivesse na validade. Viveria como um nômade, indo de bairro em bairro, à procura de comida e água, depois teria que ir de cidade em cidade, pelo resto de sua vida. Efetivamente, não teria mais a paz, o conforto e o luxo a que estava acostumado. Teria uma existência de andarilho, quase um mendigo, vivendo à própria sorte, sem saber como seria o dia seguinte.

Depois de quase meia hora, sentiu que o seu estômago começava a se livrar da pressão e da dor. Sentia-se mais aliviado, liberto das fezes que tanto o incomodaram. Ainda um pouco dolorido, levantou-se do vaso sanitário, deu descarga e limpou-se com o resto de papel higiênico que existia no rolo do porta-papel. Levantou a sua calça social importada e cara, colocou a fina camisa de botões por dentro da mesma, atarraxou o cinto de couro e então saiu da cabine da privada a fim de lavar as suas mãos. Ainda existia um pouco de água na tubulação da torneira. Olhou-se no espelho, estava com os cabelos penteados e úmidos com um creme importado, como de costume. Mesmo assim ainda passou as mãos nos cabelos por pura vaidade. Estava com a sua boa aparência recuperada depois de quase uma hora enfornado em um vaso sanitário. Estava curioso para o que viria fora daquele banheiro coletivo. Antes, no entanto, deu uma espiada nas outras cabines a fim de saber se tinha alguém nas mesmas, mas não havia nenhum usuário. Pelo menos ali dentro estava de fato sozinho. Não havia saída, teria que confirmar o ocorrido quando saísse do banheiro.


Colocou uma das mãos num dos bolsos da sua calça e pegou um dos seus dois celulares de última geração. Ativou o visor e constatou que não havia sinal algum das operadoras. Julgou que aquele celular estava com defeito e então pegou o segundo em outro bolso da sua roupa. Contudo, este também não dispunha de sinal. Estava sem contato, isolado. Não poderia ligar para ninguém para saber o que foi que houve naquelas imediações e muito menos acessar as redes sociais ou algum site jornalístico. Praguejou um pouco e depois colocou novamente os dois celulares nos bolsos. Sentiu vontade de fazer o sinal-da-cruz, algo que não fazia há muito tempo e então o fez. Ajeitou a gravata e o colarinho e saiu do banheiro. Ao olhar para a paisagem, assustou-se com o imenso cenário de destruição que circundava o referido banheiro público. Tudo estava destruído. Não havia um prédio em pé a quilômetros de distância de onde estava. Só existiam escombros. As ruas e as calçadas também foram quase que integralmente destruídas. As pessoas que estavam caminhando no calçadão, ou que estavam utilizando os quiosques, foram carbonizadas por completo, a maioria ainda estava queimando. O odor de gás e de carne queimada eram intensos. Agoniado, olhou para o mar e percebeu que o mesmo houvera recuado cerca de duzentos metros da sua margem original, o que formou uma imensa área de areia queimada. Existiam também muitos banhistas carbonizados no local. O próprio céu houvera mudado da cor azul para laranja, talvez em decorrência de algum fenômeno natural ou não. Então o executivo constatou que o mundo tinha de fato acabado. E acreditava que somente ele havia sobrevivido. Sem saber o que fazer, atordoado, sentiu que a sua calça havia ficado úmida e decidiu voltar ao banheiro a fim de encontrar mais papel higiênico. Entrou rapidamente naquela pequena edificação e, por alguns instantes, voltou os seus olhos mais uma vez para a paisagem apocalíptica e depois fechou a porta.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

No Meio da Crise...


O Sol ainda nasce belo e potente,
A rosa vermelha ainda brota da terra,
Os pássaros cantam, voam e acasalam,
Os rios correm para o mar, irresolutos,
No meio dessa dura crise econômica,
O vento sopra vindo do mar, constante,
Balançando os galhos e os cabelos,
As árvores ainda produzem seus frutos,
E o beija-flor ainda sorve o seu alimento,
E, assim, a velha Mãe Natureza nos afirma:
Crise, ora, mas quem é esta senhora?

Andorinha, Vem Dizer...


Que é mais feliz aquele que tem pouco,
Quem navega em uma jangada e não num iate,
O simples de coração, o que carrega pouco,
Andorinha vem dizer a mim e a todos em toda parte.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Reveillon de 2999.


Em breve iremos para o último ano do terceiro milênio da humanidade. Na verdade, faltam menos de duas horas. As pessoas já estão se preparando para a festa da virada. E as famílias se reúnem a fim de ver os tradicionais fogos de artifício, que há alguns séculos não passam de hologramas formados por luzes e ruídos refletidos nos céus, sem pólvora ou fogo. Sem dúvida, foi um milênio muito mais atribulado do que os outros: algumas centenas de guerras, quarenta e nove surtos de doenças tropicais mortíferas, centenas de desastres naturais, milhares de atentados terroristas, mas no final das contas a humanidade sobreviveu. Atualmente o número de habitantes do nosso planeta reduziu significativamente em comparação ao que era na virada do último milênio, de acordo com as pesquisas governamentais, somos 20% do contingente que existia em 2000. O principal motivo foi que a agora a humanidade não reside apenas na Terra mas também em todo o Sistema Solar, além de vários exoplanetas, que são corpos celestes fora do nosso sistema. Surgiram centenas de colônias, cidades e nações em outros planetas da nossa Via Láctea. Ironicamente, os terráqueos são a menor parcela dos humanos vivos no universo. O nosso planeta Terra tornou-se apenas um símbolo, um marco de onde começamos a existir, uma distante lembrança para muitos, ou um fato geográfico e histórico para lembrar a origem da humanidade ou, como muitos dizem, um museu biológico vivo. No entanto, apesar de toda a nossa imensa evolução tecnológica e científica, evoluímos muito pouco no que diz respeito à ética e à moral. Cometemos os mesmos erros dos outros milênios, o que me impressiona é que parece que a humanidade não aprende com os erros, persistindo neles eternamente. 

Acerca de mim, chamo-me Sérgio, sou brasileiro nascido em São Paulo. Tenho 384 anos de vida, mas mantenho uma aparência de um homem de cinquenta anos. Explico como isso é possível. Em 2529, após quase 400 anos de pesquisas científicas financiadas por várias potências do nosso Sistema Solar, um grupo de cientistas ingleses encontrou um processo bioquímico que congela a velhice em todos os seres vivos por tempo indeterminado, a única exigência é a aplicação das doses dos referidos medicamentos a cada cinquenta anos. Assim, qualquer pessoa poderia viver eternamente, contanto que tivesse um milhão de dólares para pagar por cada uma das aplicações medicamentosas. E eu venho de uma família de milionários da indústria de fabricação de peças de aeronaves e de estações espaciais. Portanto, dinheiro nunca foi problema para mim. Infelizmente, a minha esposa não quis tomar o coquetel Eternium 5000, esse é o nome do conjunto de medicamentos. Logo, ela envelheceu e faleceu naturalmente. A respeito dos meus três filhos, dois tomaram e um não quis. Depois que a minha esposa Raquel faleceu, não desejei me casar novamente. Contudo, tive dezenas de mulheres nas minhas dezenas de camas. Mas não vejo necessidade de me aprofundar aqui neste assunto de foro íntimo. Voltando para o tema financeiro, bom, quadrupliquei o meu patrimônio nesses mais de três séculos de vida, com o apoio dos meus dois filhos imortais. Atualmente, cada um deles tem o seu império empresarial e eu me intrometo muito pouco nas suas vidas, assim evitamos a maioria dos conflitos familiares. E, aliás, daqui a menos de meia hora eles estarão aqui para passar mais uma virada de ano comigo. O mais velho mora em Marte e o mais novo reside em Plutão, ambos formaram poderosos complexos industriais em cada um destes planetas. 

Eu preciso ser breve, pois não quero que meus filhos vejam o que estou fazendo nesse momento. Na verdade, estou escrevendo esta mensagem para os leitores do passado, mais especificamente, para os seres humanos do início deste milênio. Explico-me. Um dos meus cientistas criou uma fantástica tecnologia que consegue enviar mensagens de texto, áudio e vídeo para o passado, precisando apenas que a pessoa receptora da mensagem possua um computador pouco potente. O que eu quero dizer de mais importante é o seguinte:  preocupem-se mais com os valores da alma do que com os bens materiais, façam isso antes que tenhamos mais mil anos de guerras, mortes, tristezas e maldades de todos os gêneros. Vocês podem mudar esse futuro repleto de sofrimentos. Procurem se espiritualizar, serem mais solidários, mais piedosos, enfim, procurem a bondade. Esta conduta não vai impedir o progresso humano, mas sim refiná-lo, dignificá-lo. E eu trocaria toda a minha fortuna para que o ser humano se tornasse melhor. Bom, estou recebendo uma mensagem tecnotelepática de que os meus filhos já estão a poucos metros do prédio onde resido. Preciso desligar. Boa sorte a todos vocês, homens e mulheres do passado distante, nessa empreitada em prol do bem da humanidade. E um grande abraço a todos que estão recebendo esta mensagem.  



quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Tarde de Agosto


O Sol está se pondo por entre os prédios,
Promovendo os seus últimos raios multicores,
Os pássaros executam os seus últimos cantos,
Pois já se encaminham para as copas das árvores,
A fim de retornarem aos seus ninhos e moradas,
O vendedor de doce japonês passa agoniado, apitando,
Pretendendo adoçar um pouco a vida dos pedestres,
O jornaleiro já vende o jornal do dia seguinte: o domingo,
Como se fosse um profeta divulgando o futuro próximo,
A tarde é sim melancólica, típica do mês de agosto,
Agostinando, ou desgostando, a tudo e a todos,
E contaminando até mesmo os poetas.  

Maria Abriu a Janela...


A fim de deixar entrar na sua casa os raios de Sol,
Ela queria que a poesia também pudesse entrar,
Tal qual a brisa, tal qual o calor e a luz do Sol,
E almejava que os versos invadissem todos os ambientes,
E contaminassem tudo com a beleza pura e simples das palavras,
Maria abriu a janela, pois também queria ser aberta por dentro

sábado, 1 de agosto de 2015

More Peace and Less War


Quem planta a paz, colherá as flores da conciliação,
E lá as borboletas da justiça pousam e fazem reduto,
Receberão as águas do jardineiro do bom senso,
E o reforço pleno do adubo da evolução humana.

Persona Retrô


Eu poderia ter nascido no século XIX,
E vivido um tempo mais digno e descente,
Vesteria o meu terno ao estilo D. Pedro II,
E uma bota ao estilo Napoleão Bonaparte,
Colocaria um chapéu tal qual Charles Dickens,
Então pegaria a minha bengala no vestíbulo,
E sairia à rua como se fosse um Dostoiévski.  

quinta-feira, 16 de julho de 2015

A Dona Maturidade Bateu a minha Porta...


E disse que eu estava pronto para receber mais um pouco da sabedoria,
Mas não da sabedoria que é encontrada nos livros da filosofia ocidental,
Não seria a sabedoria socrática, platônica e muito menos a sartriana,
A Dona Maturidade entrou, tomou do meu chá do bom senso e gostou,
Aprovou o sabor, afirmou que estava na medida, encorpado e firme,
Ela queria me presentear com a sabedoria que é unicamente encontrada
Na simplicidade, no sofrimento, na convivência, na obstinação,
Deu-me de presente, abraçou-me, felicitou-me e foi embora. 

Recorrências


Notícias da TV e do jornal que se repetem com frequência,
Pessoas que cometem velhos erros, com velhas atitudes
Que ofendem aos seus semelhantes com toda excelência,
As recorrências campeiam e apropriam-se de todos os lugares,
Repetem-se, destruindo assim todo amor e toda inocência,
Onde a bondade e a dignidade são degradadas, massacradas,
E mostrando no ser humano toda a sua degenerescência.

terça-feira, 7 de julho de 2015

A Espada e a Armadura do Marquês Afonso Gusmão.


De uma das torres do meu castelo fortificado, contemplei os mouros. Eles vinham armados, gritando, quase enlouquecidos. Enviei a minha tropa ao encontro deles, para fazer a defesa das minhas terras. No entanto, eles eram muitos, cerca de oitocentos homens, e os meus soldados foram quase todos abatidos. Esses bárbaros muçulmanos atravessaram o Mar Mediterrâneo a fim de invadir a Europa. Infelizmente, as minhas terras eram a porta de entrada de Portugal, pois estavam localizadas no extremo sul do continente, próximo do estreito que dá acesso a Àfrica. E o rei me abandonou, escondeu-se na sua corte, em Lisboa. Talvez tenha rido do meu mensageiro, menosprezando-me e deve o ter expulsado da corte à golpes de pontapés. Eu, um mero nobre, um marquês residente na região da fronteira, devo ser visto por ele apenas como um inseto aristocrático que não merece atenção. Na verdade, a minha família nunca foi vista com bons olhos pela família real e isso ocorre há várias gerações. Portanto, era natural que o rei tivesse esta postura nesse momento de perigo. Mas os meus impostos ele não quer deixar de receber, aquele sovina.
 
Sai da janela e desci as escadas da torre, abri a porta de ferro e vi a minha família no centro do pátio do castelo. Esforcei-me para dar um sorriso e dei um beijo em minha esposa e em cada um dos meus oito filhos. Eles sabiam que nunca mais me veriam, por isso choravam copiosamente. Orientei para que fugissem pelo túnel subterrâneo que dava acesso ao rio mais próximo e cujas as águas levavam até as terras de um dos meus irmãos, o Marquês Miguel Afonso, já na Espanha. Pedi aos meus vassalos que me vestissem. A minha armadura era pesada. As minhas pernas tremiam. Um deles me entregou a minha espada. Colocaram o meu capacete. O meu capelão rezou uma oração ao meu sucesso. Depois ele fez o sinal da cruz na minha testa. Eu soltei uma risada, não sei o porquê, não consegui me segurar. Afastei-o de mim e ordenei que trouxessem a minha montaria. Montei o meu cavalo predileto e mandei abrir os portões do castelo. Estava pronto para morrer pelo meu país, assim como um bom nobre deve terminar a sua vida. Ordenei a um dos meus escudeiros que levantasse a bandeira com o brasão da minha família e que me seguisse. Também fui escoltado pelos meus dois últimos cavaleiros ainda vivos. Dei o meu último aceno para os meus entes queridos. E então desembainhei a minha espada e segurei com força o meu escudo, pois a batalha derradeira me esperava...

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Contemplação do Inverno


As gotas caem frias nas ruas, casas e jardins,
O céu acinzentado acinzenta a tudo e a todos,
O vento gélido e intenso sopra vindo do mar,
O inverno se apropria da paisagem e de nós,
Induzindo-nos ao recolhimento e à meditação,
A estação das cores, das flores e do calor se foi,
Contemplo o inverno, imbuído do olhar de poeta,
Com toda sensibilidade que me é possível,
Pois o inverno não invade só a paisagem,
Como também a minha alma.

Um Dia Após o Outro...


As contrariedades surgem e se vão,
A semente vira flor e a lavoura se encorpa,
A lágrima se dissolve e vem depois o sorriso,
Um dia após o outro toda dor e sofrimento passam,
Pois na vida nada é para sempre, com exceção do amor.
 

terça-feira, 16 de junho de 2015

Fuga da Penitenciária Red Stone, em Marte.


Estava tudo pronto para a fuga, que estava marcada para às 22:00 horas daquela noite. Jorge estava ansioso, havia esperado por isso durante vários meses. Era o único brasileiro do grupo formado por oito pessoas. Cada um deles contribuiu com dez mil dólares para que isso fosse efetivado. Precisaram comprar algumas pessoas dentro e fora do presídio, além das despesas com os equipamentos que seriam usados na fuga. Olhou o calendário holográfico que surgia de duas em duas horas, no meio das celas, informando a data e a hora atualizadas. Era 27 de março de 2067 e o relógio marcou 20:00 horas naquele momento. Tudo tinha sido planejado cuidadosamente pelo grupo. Não havia espaço para erros, aliás, um erro poderia ser fatal, em todos os sentidos. Uma tentativa de fuga frustrada poderia encaminhar os envolvidos para uma pena de morte. E a forma de execução utilizada em Marte era simples e eficaz: libertar o condenado no ambiente natural do planeta, sem nenhuma proteção contra a radiação solar e contra o ar sujo e empoeirado, além da ausência de oxigênio, a morte é lenta e certa. E Jorge se arrepiava só de imaginar terminar a sua vida dessa forma.

A Penitenciária Red Stone estava localizada na região equatorial do planeta vermelho, que é uma área mais quente e agradável, onde a temperatura varia entre 20 a 35 graus. A mesma era classificada como de baixa segurança, um local destinado à bandidos de baixa periculosidade. Os criminosos de pior espécie eram encaminhados aos presídios instalados nos polos sul e norte, locais menos receptivos à vida humana. Jorge era apenas um pequeno traficante de drogas, trabalhava como um dos diversos distribuidores de um grande fornecedor que mandava o entorpecente diretamente da Terra, por vias ocultas e ilegais. O brasileiro pegava os pacotes numa caixa postal dos correios todas as últimas sextas-feiras de cada mês. Tudo correu bem durante quase quatro anos de trabalho ilícito, até o momento em que foi preso em flagrante pela polícia da colônia onde residia. E, assim, recebeu uma pena de quinze anos de reclusão. Havia saído do Rio de Janeiro com a intenção de ganhar a vida com dignidade em uma colônia de Marte. Depois que trabalhou os primeiros anos como faxineiro de uma loja, foi seduzido por um amigo a ingressar no mundo do crime, onde achava que ganharia mais dinheiro com menos esforço.

Jorge não houvera cumprido nem um terço da pena quando soube de um plano de fuga que estava sendo organizado por um grupo de falsários coreanos. Eles estavam divulgando no pátio da prisão que quem se predispusesse a pagar o valor de dez mil dólares também poderia participar da fuga. E Jorge tinha quase vinte e oito mil dólares em uma das suas contas bancárias, era uma reserva de emergência que ele havia criado com o lucro do tráfico. E ele acreditava que aquela era uma situação de emergência. No entanto, Jorge não havia ido com a cara dos coreanos, não sentia confiança nas suas palavras, mas faria qualquer sacrifício para sair daquela prisão o mais breve possível. E não voltaria atrás. Então o tempo passou e o relógio holográfico marcou 22:00 horas, o horário da fuga. Pegou uma bolsa onde estavam os seus poucos pertences e, logo depois, a sua cela foi aberta. Encontraram-se no corredor que dava acesso ao refeitório, vestiram uma máscara de oxigênio e uma roupa especial que os protegeriam do ambiente natural do planeta e fugiram calmamente pela porta de acesso da cozinha. Os guardas do setor estavam todos comprados e fingiram não vê-los. E um deles desligou as câmeras e também todo o sistema de segurança daquele setor, por alguns minutos. Os oito fugitivos passaram pelo portão de serviço da muralha sem empecilhos e foram recebidos na parte externa por um veículo solar, que os transportou sem problemas até uma aeronave que estava pousada a três quilômetros dali. Os oito embarcaram sem problemas. A nave levantou vôo e se dirigiu ao planeta Terra. Naquele momento, Jorge ficou aliviado, estava livre daquela prisão e daquele planeta. Encostou-se na poltrona e tomou uma dose de whisky Black Label, que foi servido por um dos coreanos. E pela última vez, olhou por uma das janelas a paisagem desolada de Marte, resmungou alguns palavrões, lembrou que seria uma longa e cansativa viagem e, enfim, fechou os olhos e sorriu.

Surges na Janela...


Esbanjando os teus cachos negros e revoltos,
Oferecendo-me o teu sorriso que remove montanhas,
Surges na janela, amorosa, piedosa, audaciosa,
Com o teu semblante tão simples e tão decente,
Surges na janela, tal qual faziam as virgens de outrora,
Nas noites românticas que antecediam as núpcias,
Surges, ressurges, atendendo a minha solicitude,
Minha morena dos cachos que envolvem o meu amor.

Potência


Estás nos automóveis e nas máquinas,
Estás nas turbinas geradoras de energia,
Também habitas nas diversas caixas de som,
Mas a maior potência que existe no mundo,
Está dentro de nós mesmos, na nossa essência.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Madame Esperança


És verde, tens a cor da natureza,
És adorada por todas as pessoas,
És hóspede do castelo da felicidade,
E és casada com o nobre Sr. Afinco.

Confiança


Ela não é comprada em supermercados,
Nem tampouco pode ser presenteada,
Ela não pode ser maquiada ou disfarçada,
Não tomamos um comprimido de confiança,
Nem a misturamos com o nosso leite.
Ela surge com o passar dos anos,
Amadurece com a convivência diária,
Solidifica-se como uma placa de concreto,
Mas também pode ser quebrada facilmente,
Portanto, quando a dona confiança surgir,
Tratemo-as com atenção, carinho e amor,
Pois senão ela nos dá as costas e vai embora.
 

domingo, 31 de maio de 2015

Uma Noite na Colônia Alfa, em Marte.


Olhou por uma das janelas do seu quarto e não viu nada lá fora além do gigantesco deserto. Era uma noite aparentemente calma do ano de 2049. O seu pequeno apartamento estava localizado no pavimento superior daquele módulo habitacional. Morava ali havia quase vinte anos, desde quando a colônia foi fundada, a primeira na superfície de Marte. Depois dela, foram criadas mais uma dezena de colônias espalhadas por todo o planeta, desde os polos até a região equatorial. A dele se encontrava no polo norte, uma região mais fria e mais propícia a existência de vida. Chamava-se Afonso e era português, aliás, nasceu em Portugal e terá que morrer em Marte, pois estava proibido de voltar à Terra, de acordo com o contrato que havia assinado antes de viajar ao planeta vermelho. Com exceção das autoridades políticas e das suas comitivas que visitavam a colônia esporadicamente, todas as pessoas que estavam ali morreriam ali. Existia até um cemitério no terreno da colônia para esse fim e que já houvera sido utilizado por alguns dos seus habitantes que faleceram de causas naturais e que foram prontamente substituídos por outros candidatos vindos da Terra.

A interação com os parentes e os amigos que estavam no planeta Terra era permitida, porém, rigidamente regulamentada. Uma das cláusulas do contrato dos colonos destacava que todo e qualquer fenômeno ou episódio atípico que ocorresse no interior ou no exterior da colônia não poderia ser informado nas conversas, sob o risco de o colono perder o direito de interagir com os habitantes da Terra de uma forma provisória ou definiva, dependendo do grau de complexidade do fato. Afonso já havia presenciado e ouvido acerca de vários episódios atípicos, na verdade, já estava acostumado com eles, desde pessoas que enlouquecerem por causa do isolamento e enclausuramento na colônia até o avistamento de criaturas extraterrestres, ou seja, dos habitantes naturais de Marte. Sim, existiam animais de pequeno porte morando nas terras áridas do planeta vermelho, aliás, não tão áridas assim, pois existia água em estado sólido e líquido nos polos, informação que já houvera sido confirmada pelos robos da NASA e pelo grupo de cientistas da colônia. Afonso já havia visto criaturas marcianas das janelas do seu apartamento e até mesmo do módulo do centro de convivência. Na verdade, já houvera visto até uma dupla de humanóides rondando o terreno cercado e monitorado da colônia. Todos ali sabiam da existência desses seres, contudo, não podiam dizer a ninguém na Terra.

Afonso trabalhava como garçom de um dos restaurantes e também era professor de yoga em uma das academias de ginástica da colônia. Tinha dois empregos, contudo, a maioria dos colonos só possuía um. Não fazia isso por necessidade financeira mas apenas para fugir da solidão e da depressão que às vezes o acometia, não possuía esposa nem filhos. Definitivamente, ele sabia que Marte não era um lugar propício para romantismos e finais felizes. A aridez do planeta parecia contaminar as pessoas. Tomou uma dose de conhaque enquanto contemplava a paisagem da janela, se tivesse sorte, veria algum animal ou quem sabe algum humanóide circulando na parte externa do complexo ou então tentando entrar no terreno da colônia e, na sequência, sendo alvejado pela equipe de segurança. Afinal, isso já havia acontecido alguns anos atrás. De fato, o que ele mais temia era uma invasão desses seres de preto vestidos de capacete, ninguém havia visto a fisionomia deles, com exceção da equipe de segurança, é claro. Lembrou então que teria que acordar cedo no dia seguinte, a fim de dar uma aula para um grupo de mulheres idosas, isso se repetia todas as terças e quintas-feiras de manhã. No entanto, antes que se afastasse da janela, viu um humanóide caminhando próximo do módulo onde morava e a mais ou menos um metro de distância das grades de proteção do terreno. Contemplou-o um pouco assustado. O humanoide parou a sua caminhada, olhou para a sua janela, depois acenou e foi embora. Então afonso levantou-se da cadeira satisfeito, colocou o copo vazio na mesa e deitou-se na sua cama.
 

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Firmamento


Está tudo lento neste momento,
E o aperreio nesse cenário não veio,
Só há o sol e o vento como condimento,
E neste floreio, eu recito por este meio
A poética da vida e do firmamento.
 

Ausência da minha Avó


Há dois anos, uma das minhas avós se foi,
Tenho saudade da sua voz mansa e delicada,
Tenho saudade da sua alegria e dos seus sorrisos,
Da sua presença amável, receptiva, abençoada,
E das nossas conversas a respeito de tudo e de todos,
Que Deus a tenha colocado em uma vereda sossegada.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Regando os Jardins da Veracidade




Se não me conheces com profundidade,
Então tu não podes me decifrar,
E se me conheces com alguma intensidade,
Ainda assim, não é sábio me criticar.

Se ouves alguma difamação da minha pessoa,
Tu deves tirar as tuas próprias conclusões,
Pela minha postura diária que logo disto distoa,
Contradizendo assim todas as más ilusões.

A multiplicidade não tem a ver com a dignidade,
Pois cada pessoa é um universo distinto,
E precisamos regar os jardins da veracidade,
E, assim, subtrair a maledicência do recinto.

Flor do Vale


Após ter te descoberto,
Te assisti, te protegi, te adubei,
Fortalecendo-te em toda tua superfície,
E, assim, sem demora te amei,
Tornei-me teu jardineiro que te serve,
E de tanto amor que eu te dei,
Terminei eu mesmo virando uma flor,
E seu companheiro para sempre serei.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Contemplo-te...

Com amor, com carinho, com respeito,
Contemplo-te como se fostes uma obra de arte,
Com tuas cores, nuances, luzes e efeito,
És pintura, escultura, e a beleza em ti faz parte,
E somente ao teu lado eu fico satisfeito.

Ao Dia do Trabalho


A mão que ara e aduba a terra,
O braço que dá a ração às galinhas,
O manipulador da rede e do barco,
As mãos femininas que comandam,
As mãos masculinas que ensinam,
Unem-se em um único e honroso fim:
O trabalho.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Sol Nascendo...

Clara aurora que aflora nesta hora,
Iluminando de luzes e cores todas as flores,
Nasce no mar e vem sem demora,
Abarcar a vida, os sonhos e todos os amores.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Maresia

Acometes a tudo e a todos, invisível,
És, ao mesmo tempo, tão forte e tão discreta,
Habitas as praias, vens das águas marinhas,
Cortejas homens e mulheres igualmente,
Abraças qualquer coisa com igual intensidade,
E, ao teu beijo, um pilar pode partir ao meio,
És atrevida, entras nos recintos sem ser convidada,
E podes vir perfumada ou não, depende do teu humor,
Não tens marido, afinal, és dada à noite e à Lua Cheia,
Maresia do mar, maresia do amar, maresia da vida.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Equivocados...



Todos nós bebemos dessa fonte alguma vez,
Pois a vida é feita de erros e de acertos,
E enganar-se é uma estrada obrigatória,
A qual não podemos encontrar atalho,
A ilusão das aparências e das atitudes,
Pode enganar o sujeito mais vigilante,
E a porta da ilusão está sempre aberta,
Sendo adentrada por qualquer visitante,
E onde somos assistidos pela Sra. Estética,
Que é enfeitada por fora e vazia por dentro.

Respeito-te...



Em tua essência, em tua ausência e presença,
Respeito-te como tu és, naturalmente, dignamente,
Conservo-te em tua humanidade, intimamente,
Em tuas imperfeições e virtudes de nascença.

Respeito-te com afinco, com amor, com lucidez,
Como um jardineiro que conserva uma flor,
Desprendendo todo um sincero e fiel amor,
Pois na vida o melhor é se afastar da insensatez.