Enchantments - Prose and Poetry

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Reveillon de 2999.


Em breve iremos para o último ano do terceiro milênio da humanidade. Na verdade, faltam menos de duas horas. As pessoas já estão se preparando para a festa da virada. E as famílias se reúnem a fim de ver os tradicionais fogos de artifício, que há alguns séculos não passam de hologramas formados por luzes e ruídos refletidos nos céus, sem pólvora ou fogo. Sem dúvida, foi um milênio muito mais atribulado do que os outros: algumas centenas de guerras, quarenta e nove surtos de doenças tropicais mortíferas, centenas de desastres naturais, milhares de atentados terroristas, mas no final das contas a humanidade sobreviveu. Atualmente o número de habitantes do nosso planeta reduziu significativamente em comparação ao que era na virada do último milênio, de acordo com as pesquisas governamentais, somos 20% do contingente que existia em 2000. O principal motivo foi que a agora a humanidade não reside apenas na Terra mas também em todo o Sistema Solar, além de vários exoplanetas, que são corpos celestes fora do nosso sistema. Surgiram centenas de colônias, cidades e nações em outros planetas da nossa Via Láctea. Ironicamente, os terráqueos são a menor parcela dos humanos vivos no universo. O nosso planeta Terra tornou-se apenas um símbolo, um marco de onde começamos a existir, uma distante lembrança para muitos, ou um fato geográfico e histórico para lembrar a origem da humanidade ou, como muitos dizem, um museu biológico vivo. No entanto, apesar de toda a nossa imensa evolução tecnológica e científica, evoluímos muito pouco no que diz respeito à ética e à moral. Cometemos os mesmos erros dos outros milênios, o que me impressiona é que parece que a humanidade não aprende com os erros, persistindo neles eternamente. 

Acerca de mim, chamo-me Sérgio, sou brasileiro nascido em São Paulo. Tenho 384 anos de vida, mas mantenho uma aparência de um homem de cinquenta anos. Explico como isso é possível. Em 2529, após quase 400 anos de pesquisas científicas financiadas por várias potências do nosso Sistema Solar, um grupo de cientistas ingleses encontrou um processo bioquímico que congela a velhice em todos os seres vivos por tempo indeterminado, a única exigência é a aplicação das doses dos referidos medicamentos a cada cinquenta anos. Assim, qualquer pessoa poderia viver eternamente, contanto que tivesse um milhão de dólares para pagar por cada uma das aplicações medicamentosas. E eu venho de uma família de milionários da indústria de fabricação de peças de aeronaves e de estações espaciais. Portanto, dinheiro nunca foi problema para mim. Infelizmente, a minha esposa não quis tomar o coquetel Eternium 5000, esse é o nome do conjunto de medicamentos. Logo, ela envelheceu e faleceu naturalmente. A respeito dos meus três filhos, dois tomaram e um não quis. Depois que a minha esposa Raquel faleceu, não desejei me casar novamente. Contudo, tive dezenas de mulheres nas minhas dezenas de camas. Mas não vejo necessidade de me aprofundar aqui neste assunto de foro íntimo. Voltando para o tema financeiro, bom, quadrupliquei o meu patrimônio nesses mais de três séculos de vida, com o apoio dos meus dois filhos imortais. Atualmente, cada um deles tem o seu império empresarial e eu me intrometo muito pouco nas suas vidas, assim evitamos a maioria dos conflitos familiares. E, aliás, daqui a menos de meia hora eles estarão aqui para passar mais uma virada de ano comigo. O mais velho mora em Marte e o mais novo reside em Plutão, ambos formaram poderosos complexos industriais em cada um destes planetas. 

Eu preciso ser breve, pois não quero que meus filhos vejam o que estou fazendo nesse momento. Na verdade, estou escrevendo esta mensagem para os leitores do passado, mais especificamente, para os seres humanos do início deste milênio. Explico-me. Um dos meus cientistas criou uma fantástica tecnologia que consegue enviar mensagens de texto, áudio e vídeo para o passado, precisando apenas que a pessoa receptora da mensagem possua um computador pouco potente. O que eu quero dizer de mais importante é o seguinte:  preocupem-se mais com os valores da alma do que com os bens materiais, façam isso antes que tenhamos mais mil anos de guerras, mortes, tristezas e maldades de todos os gêneros. Vocês podem mudar esse futuro repleto de sofrimentos. Procurem se espiritualizar, serem mais solidários, mais piedosos, enfim, procurem a bondade. Esta conduta não vai impedir o progresso humano, mas sim refiná-lo, dignificá-lo. E eu trocaria toda a minha fortuna para que o ser humano se tornasse melhor. Bom, estou recebendo uma mensagem tecnotelepática de que os meus filhos já estão a poucos metros do prédio onde resido. Preciso desligar. Boa sorte a todos vocês, homens e mulheres do passado distante, nessa empreitada em prol do bem da humanidade. E um grande abraço a todos que estão recebendo esta mensagem.  



quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Tarde de Agosto


O Sol está se pondo por entre os prédios,
Promovendo os seus últimos raios multicores,
Os pássaros executam os seus últimos cantos,
Pois já se encaminham para as copas das árvores,
A fim de retornarem aos seus ninhos e moradas,
O vendedor de doce japonês passa agoniado, apitando,
Pretendendo adoçar um pouco a vida dos pedestres,
O jornaleiro já vende o jornal do dia seguinte: o domingo,
Como se fosse um profeta divulgando o futuro próximo,
A tarde é sim melancólica, típica do mês de agosto,
Agostinando, ou desgostando, a tudo e a todos,
E contaminando até mesmo os poetas.  

Maria Abriu a Janela...


A fim de deixar entrar na sua casa os raios de Sol,
Ela queria que a poesia também pudesse entrar,
Tal qual a brisa, tal qual o calor e a luz do Sol,
E almejava que os versos invadissem todos os ambientes,
E contaminassem tudo com a beleza pura e simples das palavras,
Maria abriu a janela, pois também queria ser aberta por dentro

sábado, 1 de agosto de 2015

More Peace and Less War


Quem planta a paz, colherá as flores da conciliação,
E lá as borboletas da justiça pousam e fazem reduto,
Receberão as águas do jardineiro do bom senso,
E o reforço pleno do adubo da evolução humana.

Persona Retrô


Eu poderia ter nascido no século XIX,
E vivido um tempo mais digno e descente,
Vesteria o meu terno ao estilo D. Pedro II,
E uma bota ao estilo Napoleão Bonaparte,
Colocaria um chapéu tal qual Charles Dickens,
Então pegaria a minha bengala no vestíbulo,
E sairia à rua como se fosse um Dostoiévski.