Estava
tudo pronto para a fuga, que estava marcada para às 22:00 horas
daquela noite. Jorge estava ansioso, havia esperado por isso durante
vários meses. Era o único brasileiro do grupo formado por oito
pessoas. Cada um deles contribuiu com dez mil dólares para que isso
fosse efetivado. Precisaram comprar algumas pessoas dentro e fora do
presídio, além das despesas com os equipamentos que seriam usados
na fuga. Olhou o calendário holográfico que surgia de duas em duas
horas, no meio das celas, informando a data e a hora atualizadas. Era
27 de março de 2067 e o relógio marcou 20:00 horas naquele momento.
Tudo tinha sido planejado cuidadosamente pelo grupo. Não havia
espaço para erros, aliás, um erro poderia ser fatal, em todos os
sentidos. Uma tentativa de fuga frustrada poderia encaminhar os
envolvidos para uma pena de morte. E a forma de execução utilizada
em Marte era simples e eficaz: libertar o condenado no ambiente
natural do planeta, sem nenhuma proteção contra a radiação solar
e contra o ar sujo e empoeirado, além da ausência de oxigênio, a
morte é lenta e certa. E Jorge se arrepiava só de imaginar terminar
a sua vida dessa forma.
A
Penitenciária Red Stone estava localizada na região equatorial do
planeta vermelho, que é uma área mais quente e agradável, onde a
temperatura varia entre 20 a 35 graus. A mesma era classificada como
de baixa segurança, um local destinado à bandidos de baixa
periculosidade. Os criminosos de pior espécie eram encaminhados aos
presídios instalados nos polos sul e norte, locais menos receptivos
à vida humana. Jorge era apenas um pequeno traficante de drogas,
trabalhava como um dos diversos distribuidores de um grande
fornecedor que mandava o entorpecente diretamente da Terra, por vias
ocultas e ilegais. O brasileiro pegava os pacotes numa caixa postal
dos correios todas as últimas sextas-feiras de cada mês. Tudo
correu bem durante quase quatro anos de trabalho ilícito, até o
momento em que foi preso em flagrante pela polícia da colônia onde
residia. E, assim, recebeu uma pena de quinze anos de reclusão.
Havia saído do Rio de Janeiro com a intenção de ganhar a vida com
dignidade em uma colônia de Marte. Depois que trabalhou os primeiros
anos como faxineiro de uma loja, foi seduzido por um amigo a
ingressar no mundo do crime, onde achava que ganharia mais dinheiro
com menos esforço.
Jorge
não houvera cumprido nem um terço da pena quando soube de um plano
de fuga que estava sendo organizado por um grupo de falsários
coreanos. Eles estavam divulgando no pátio da prisão que quem se
predispusesse a pagar o valor de dez mil dólares também poderia
participar da fuga. E Jorge tinha quase vinte e oito mil dólares em
uma das suas contas bancárias, era uma reserva de emergência que
ele havia criado com o lucro do tráfico. E ele acreditava que aquela
era uma situação de emergência. No entanto, Jorge não havia ido
com a cara dos coreanos, não sentia confiança nas suas palavras,
mas faria qualquer sacrifício para sair daquela prisão o mais breve
possível. E não voltaria atrás. Então o tempo passou e o relógio
holográfico marcou 22:00 horas, o horário da fuga. Pegou uma bolsa
onde estavam os seus poucos pertences e, logo depois, a sua cela foi
aberta. Encontraram-se no corredor que dava acesso ao refeitório,
vestiram uma máscara de oxigênio e uma roupa especial que os
protegeriam do ambiente natural do planeta e fugiram calmamente pela
porta de acesso da cozinha. Os guardas do setor estavam todos
comprados e fingiram não vê-los. E um deles desligou as câmeras e
também todo o sistema de segurança daquele setor, por alguns
minutos. Os oito fugitivos passaram pelo portão de serviço da
muralha sem empecilhos e foram recebidos na parte externa por um
veículo solar, que os transportou sem problemas até uma aeronave
que estava pousada a três quilômetros dali. Os oito embarcaram sem
problemas. A nave levantou vôo e se dirigiu ao planeta Terra.
Naquele momento, Jorge ficou aliviado, estava livre daquela prisão e
daquele planeta. Encostou-se na poltrona e tomou uma dose de whisky
Black Label, que foi servido por um dos coreanos. E pela última vez,
olhou por uma das janelas a paisagem desolada de Marte, resmungou
alguns palavrões, lembrou que seria uma longa e cansativa viagem e,
enfim, fechou os olhos e sorriu.